segunda-feira, 11 de abril de 2016

O TAPETE AMARELO


O TAPETE AMARELO
Gteixeira 02/2016


Encontrei o meu espaço, hoje m sinto gratificado e encontrado quando adentro á aquela humilde e aconchegante casa de quintal, de quintal por ser num local onde não mora ninguém e a solidão me faz companhia junto aos pássaros  cantantes, formigas caseiras, grilos e bem-te-vis  assobiando ao meu ouvido,  acenando as maravilhas que deixamos prá trás esquecendo que a natureza por vezes reclama a presença de um vivente para mostrar quão importante é a mãe.  Vida integral.
As vezes recebo a visita de um, de uns, de umas e outras. A metade familiar hoje reúne-se em torno do novo lar, distante  do burburinho rotineiro onde a cachaça as drogas e a falta de respeito impera “Kiko lindo, Kiko maravilhoso” ressoa na discoteca vizinha. Longe estou, estou na paz.
Esparramado na sala compondo a decoração o velho tapete amarelo, na casa que morávamos, no fundo da então mansão das matriarcas, lembranças da primeira gestação, onde sentávamos ao seu redor, bebericando umas e outras fazendo planos sonhador de um dia,  mais adiante ter uma casa no campo onde pudesse  guardar os livros e discos, amigos e nada mais. Despertava com o choro de uma criança recém nascida, primeiro filho, esperado com ansiedade pois não foi feito programado, apareceu,  e para  minha e demais, a felicidade sem esperar bateu a minha porta
A clã acostumada aos grandes empreendimentos, mansões e cidades megas ao chegar no recanto escondido e inacabado, não poupou comentários maldosos e maledicentes, “Ora, Deus que me livre vim prá um lugar desse, sem nada... Que perigo” , isso em voz estridente corando todos que estavam na frente um uma tv 14”, daquelas que o fundo bate na parede, mas serve, da pra vê Os Dez Mandamentos. Deixando-se notar o seu estado de destempero e nervosismo.
Não poderiam se acostumar, por aqui não tem buzinas, escadas rolantes, notícias a gosto de sangue, estupros e sequestros.
A viagem fora traumática, se perdera no Ferry boat, o carro estacionado no porão, fez a dondoca nervosa, queria que todos a vissem de carro novo, porem o inusitado aconteceu, ao estacionar.  Calor, fedor de óleo queimado, motores ligados não teve como suportar o clima abafado, sem ar condicionado e vista mar, o pânico tomou conta. O ferry atracou em Bom Despacho e, por onde estava a mana que fazia companhia?. Gritos, choros, desespero até a comiseração do funcionário marítimo que acenou a direção  do portão de saída e la estava ela.
Esbravejou, xingou o funcionário da balsa num total destempero por horas a fio,  até a noite na pobre casa do irmão mais novo, deserdado de bens porem herdeiro da paz e de compreensão, ouvia atento junto com os demais as lamurias e blasfêmias de uma viagem curta e já desgastante pelo trajeto e condições atuais.
O tapete lá estava, como testemunha, já ouvira isso outras vezes, com um furinho quase impercebível o que para uns é atestado de pobreza, para outros ali sentados, conforto e distinção, sim conforto e pobreza dois opostos que não se atraem, mas isso é o de menor importância, atentos ás brutalidades de Apuk, na telinha, os chegados não sabiam distinguir a importância do momento, ou bem ouvir as leras da visitante ou sintonizar intimamente as violências sofridas pelo povo de Israel.
Afinal, qual a diferença entre o século XXI, fineza educação e tecnologia entre brutalidade, desrespeito e cizânia.
Vemos isso nos noticiários e jamais estejamos nesse contexto.
            O espelho reflete a imagem que se apresenta a sua frente.
A irmã mais velha, sorrir ao vê a cara dos estantes, que impactados pelo mau agouro momentâneo da irmã descontrolada, se vai, deixando um rastro de escárnio e vazio, próprio de pessoas destemperadas acostumadas a viver no ilusório estado de riqueza.